>> entrevista para o Instituto Sergio Motta sobre a participação de Run>Routine no Expanded Box, sob curadoria de Claudia Gianetti, na Arco Madri 2008
1)Como surgiu a idéia do Run>Routine?
O Run>Routine surgiu da observação em torno de operações banais que as pessoas travam no dia-a-dia, e que são baseadas em rotinas de computador. Falo por exemplo de uma escolha de uma música ou um arquivo de vídeo em um player onde há por detrás da interface gráfica, todo um processo repetitivo e estranho ao mundo do que normalmente vemos e ouvimos.
O título é importante: Run, na linguagem computacional, é uma espécie de cacoete associado à execução de comandos, scripts, programas ou rotinas de programação. Ou seja, é um comando, que dispara eventos. A palavra rotina afirma o caráter irônico do projeto, pois sugere menos um hábito e mais uma repetição de pequenos acidentes, cotidianos. Resumindo, busquei associar as rotinas de código às rotinas domésticas. Se as primeiras são programáveis, supostamente infalíveis, as segundas são quase sempre carregadas de imprevistos, quase sempre conturbadas. Mas ambas podem resultar em transtornos.
Trata-se de um sistema sincronizado, com duas telas, uma rodando o script de programação que dispara os vídeos de forma aleatória, e outra com os pequenos clips que são os acidentes, geralmente coisas caindo, produzindo uma repetição de pequenas seqüências caóticas, ruidosas, que tendem a prender a atenção do público por alguns instantes de forma singular.
O projeto foi pensado originalmente para a exposição Copiar e Colar (Ctrl C e Ctrl V) realizada no Sesc Pompéia, em novembro de 2007, onde previa-se a criação de trabalhos baseados nessas operações técnicas, muitas vezes associadas ao computador. A versão para o Expanded Box foi aprimorada em vários detalhes.
> >2) Você acha que seções como o Expanded Box,
> >dedicados a arte e tecnologia, são cada vez mais
> >presentes em mostras de arte? E por que arte
> >tecnologia ainda é separada das demais obras de
> >arte tradicionais?
O Expanded Box é supostamente uma “evolução” da seção Black Box (um conceito mais estrito a partir do próprio nome), que já existia na Arco. A existência dessa vertente está localizada em algum ponto entre a lógica da feira em reunir curadores interessados em comprovar movimentos, recortes ou tendências e o aspecto prático que é a existência de um patrocinador (Beep, um fabricante de equipamentos de informática) interessado em chamar a atenção para uma arte produzida por meios tecnológicos. A relação da feira com essa vertente de informática acontece há uns 9 ou 10 anos e o prêmio de aquisição Arco/Beep, por exemplo, existe desde 2006 com esse intuito, de apontar trabalhos em toda a feira (não apenas entre os participantes do espaço patrocinado, como existia inclusive o prémio off-Arco, para trabalhos que sequer estariam em Madri durante a feira) que tenham uma relevância artística no uso de tecnologias eletrônico-digitais. O Arco/Beep já premiou trabalhos conhecidos entre nós como o de Eduardo Kac (Time Capsule, em 2006 – por curiosidade, um trabalho que foi parte de uma curadoria minha na Casa das Rosas) e Brainloop de Davide Grassi. (off-arco em 2007).
Neste ano, o espaço do Expanded Box se mostrou como uma seção curatorial muito interessante, com artistas que admiro muito como Casey Reas, Jim Campbell, José Manuel Berenguer (o premiado deste ano), Ivan Marino, Rejane Cantoni/Leo Crescenti, Carlos Guaraicoa (ou seja, praticamente todos os participantes) apesar do descaso ou da dificuldade da imprensa brasileira em acompanhar esse tipo de projeto. É verdade que a lógicas e estratégias em torno da “arte e tecnologia” acabaram por criar um nicho isolado do pensamento da arte contemporânea como um todo e isso envolve muitas questões que não daríamos conta aqui. Mas curiosamente, o fato de estar separada das demais obras tradicionais na Arco, chega a ser um ponto favorável, pois dentro de uma babel de técnicas, nacionalidades e formas de apresentação, como é típico da feira, essa organização espacial permite ao visitante um percurso numa linguagem minimamente homogênea, como articulações de um mesmo âmbito, ao menos no corredor de passagem do Expanded Box. Ou seja a tão falada situação de auto-confinamento das chamadas novas mídias gerou um efeito bastante positivo, se destacando do amontoado de obras que procuram gritar ao visitante algum apelo comercial (também curiosamente, os trabalhos que envolvem tecnologias computacionais e/ou de imagens não são os mais típicos do comércio da arte). Ou seja, ali havia nitidamente algum risco, experiência e pesquisa de linguagem.
> >3) O que houve de melhor e pior na ARCO deste ano.
Não gosto muito desse tipo de classificação (melhor x pior), mas não me parece ter sido bom o agrupamento de galerias brasileiras (falo da parte representativa da curadoria oficial do Brasil na Arco), num espaço único, apertado, nada generoso (foi um alento fazer parte de uma outra curadoria, fora do pacote ‘oficial’ que envolvia 108 artistas brasileiros). Por outro lado houve uma boa expansão de trabalhos pela cidade, como as instalações da Lucia Koch, Marcelo Cidade ou Eder Santos, onde a visita era decorrente de um percurso por outros espaços na cidade, distante dos pavilhões cansativos da feira.
> >4) Me parece que você e outros artistas
> >selecionados para a ARCO foram através da
> >Galeria Brito Cimino, como foi isso? Isso
> >procede?
Como não fazia parte da curadoria oficial Moacir dos Anjos/Paulo Sergio Duarte (para a qual os artistas tiveram algum apoio oficial), mas sim de uma curadoria internacional (a curadoria do Expanded Box foi feita pela Claudia Gianetti, e que tinha apenas dois projetos brasileiros, o da Rejane/Leo e o meu), a única forma de apoio que tive foi da Galeria Brito Cimino, que vem me representando e que viabilizou a montagem do Run>Routine em um espaço dedicado e com toda a estrutura necessária. Mas cada caso é diferente um do outro. Outros artistas da Galeria tiveram outras forma de apoio dependendo da vertente para as quais foram selecionados.
links:
Expanded Box
http://www.ifema.es/ferias/arco/expanded_box_i.html
Brasil na Arco (representação oficial):
http://www.cultura.gov.br/brasil_arte_contemporanea/?page_id=5#lk
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