Fui convidado para o evento X Moradias, onde apresento um projeto que acontece por 5 dias num apartamento situado no centro da cidade (rua General Jardim 373 ap 12, quase esquina com Amaral Gurgel). A idéia reflete experiências anteriores, entre ambientes privados e espaço público, mas dessa vez sem envolver projeções, formas de representação ou tecnologias mais complexas.
Meu projeto em X Moradias é um desdobramento de questões esboçadas em um trabalho anterior, ainda não finalizado, chamado Presenças Insustentáveis — apresentado como uma espécie de protótipo na exposição 14×32 no 3º, no Sesc Paulista no final de 2007. Ali foi montado um pequeno apartamento cenográfico, em cujas paredes eram anexadas projeções de apartamentos vazios ou habitados por presenças imaginadas.
Nesse projeto que acontece no X Moradias, o apartamento é real, não há projeções e as presenças podem ser sentidas in-loco, envolvendo elementos reais. A assistência, manutenção, cuidados e operação é feita pela Paloma Oliveira.
Imagens e vídeos aqui em breve. O projeto vai até sábado, dia 27 de junho e a experiência dos percursos entre os vários apartamentos e residências é algo difícil de descrever, imperdível diria.
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Paloma Oliveira, minha fiel escudeira que tocou boa parte do projeto e registrou quase todos os que passaram pelo apartamento enviou um texto. Segue:
Presenças Insustentáveis: kitinet
[relato de Paloma Oliveira]
O ciclo aparece constantemente no pensamento: o ciclo selvagem do gato que corre atrás da galinha lambendo os lábios gatunos, da galinha que roda em círculos e não sabe para onde ir, do ser humano que caça os gatos e os cachorros, o inquilino que foge do proprietário, que suga o inquilino por vezes uma situação que beira o cruel. Que lado tomar? O da constância? O dos instintos comuns? Por que não gatos em gaiolas se pássaros que tem asas são comumente presos ha tantos anos? Por que não aprisionar os gatos? Por que aprisionar um ser? Por que a galinha é idiota? Por que ela merece virar galinhada no final? Quais os parâmetros que definem isso? E tem também os ciclos dos visitantes que mostram como podemos ser tão diferente uns dos outros e no fundo, pouco importa o que se apresenta, tudo depende do que há dentro de cada um.
Mas podemos tirar o contexto de seu local de origem e só de fazer essa inversão conseguimos dar um piripaque no cérebro que faz com que vejamos, pensemos diferente.
Hoje chove. As pessoas estão naturalmente mais fechadas e assustadas. Talvez não se assustem tão fácil quanto em um dia com sol onde stão abertas e o desconhecido realmente não fazia parte do que se esperava para o dia. Mas a idéia é assustar? Ou é revirar o dia a dia? Talvez nem nós saibamos, seja uma construção.
Toques e conversas me fazem pensar mais a fundo sobre o trabalho. Penso em quanto as pessoas se chocam com os gatos dentro de gaiolas. Em como o desconhecido e retirar um dos sentidos: o da visão nos desorienta. Como somos pobres de sentidos, mas um novo publico se forma afã, pedindo para que o outro lhe proporcione isso. E me parece que o papel da arte, pelo menos atualmente, tem sido um pouco esse: o de retirar da anestesia. Se em algum outro momento os artistas o faziam para sacudir o povo, hoje o povo o pede para desafogar do que é imposto pelos já sabidos excessos (de mídia, de informações, de produtos, de idéias… tudo fragmentado e fora e qualquer lugar).
Paloma Oliveira [ao longo dos dias, durante o projeto]
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