Coisa Lida é um projeto que executa uma série de frases a partir de determinados parâmetros, comprometendo ou proporcionando a leitura de suas mensagens.
O projeto para o SP Urban Digital Festival foi pensado de forma que os parâmetros pudessem ser alterados pelo próprio contexto ao redor: o trânsito da avenida paulista ou o ruído captado no ambiente do evento (mirante), determinando o processamento e o entendimento das frases em tempo real.
A proposta comenta a própria condição que a viabiliza, fazendo uso da tecnologia sem enfatizar apenas o aspecto técnico. Assim, a conexão com o tema Digital Afterimage se dá menos por processos tecnicistas e mais pelas inúmeras possibilidades de reverberação das frases junto ao público. O uso de palavras/frases e imagens simples busca uma consonância com as limitações de resolução dos painéis mas sintetiza também o que interessa em termos de linguagem:
A sucessão de palavras é pontuada por frames de imagens, criando uma leitura subliminar e fugitiva, em frases que versam sobre o que escapa à visão – seja pelo movimento, pela escala ou pela leitura apressada de cada um. O que permanece é uma negociação, uma oscilação que revela o processamento das imagens em nossas retinas e memórias, um embate entre o que falta (o que escapa) e o que fica retido.
Tal como acontece nos sistemas óticos associados aos afterimages (tema da mostra em 2014), a proposta considera que alguma “marca” é deixada no pensamento a partir do que ecoa das frases, em aproximações com a literatura. O projeto tem como ponto de partida uma versão de Coisa Vista (2011), que opera a partir de adições sonoras em espaços fechados. Coisa Lida foi pensada especificamente para o SP Urban, como uma proposta de entendimento expandido do tema Digital Afterimage, buscando diferentes formas de relação com o espaço público, em tensão com a aceleração e os fluxos em uma cidade como São Paulo.
FUNCIONAMENTO
Coisa Lida responde em tempo real aos estímulos visuais e sonoros dos arredores.
O sistema acelera ou ralenta uma série de frases pré-definidas exibidas nos painéis. As frases são geradas em tempo real na forma de gráficos vetoriais criados em OpenFrameworks.
O projeto envolve um sistema de detecção de movimentos a partir de um Kinect instalado no Mirante da Al. das Flores, em frente ao edifício Fiesp/Sesi, que “enxerga” o fluxo de carros na Av. Paulista e tornam o fluxo de poemas uma espécie de comentário do próprio ambiente.
POEMAS E TEXTOS UTILIZADOS
ALBERTO CAEIRO
FRASE DE JOÃOZITO PEREIRA [APUD PAUL VIRILIO]
EXTRATO DE TEXTO DE PIERRE CLASTRES
POEMA DE CAMILA NUÑEZ MUITAS
FRASE DE OSCAR WILDE
TRECHO DE A PAIXÃO SEGUNDO G.H. DE CLARICE LISPECTOR
FICHA TÉCNICA
Tecnologia: Edgar Zanella
Colaboração [AfterFX]: Lu Nunes
Curadoria: Marília Pasculli e Tanya Toft
TEXTO CRÍTICO:
[excerpt]
The work Coisa Lida (2014) by Lucas Bambozzi confronts our contemporary urban condition of speed and shock. It makes visible the speed of the city of Sao Paulo and explores tensions of acceleration and flow. Based on the work Coisa Vista (2011), Coisa Lida lives on the gallery façade after-hours on Paulista Avenue. It presents glimpses of words and phrases by Alberto Caeiro (F. Pessoa), Paul Virilio, Pierre Clastres, Oscar Wilde, Clarice Lispector and others that reference quotes on speed and perception. These are generated as video sequences, fading in and out with varying pace, blending into sequences like a filmic montage of word-images. The text is dynamic and interfered real-time by the changing pace and noise from Paulista Avenue in front of the gallery building. In a negotiation between acceleration and deceleration, the rhythm of the phrases responds to signals from a motion detection system installed in front of the gallery façade, from a webcam that “sees” and “listens” the flows of cars and acts as a regulator of the acceleration system. The audio perceived on the sidewalk is captured is amplified and diverted to the screens located on the Mirante gallery. Coisa Lida reacts to the rhythms and impressions in real time as a dynamic, dystopian afterimage of the city’s rhythm and pace. The oscillation between the phrases reveals the processing of images on our retinas and memories as a clash between what escapes the eye and what is retained on our retina. The word-images send optical shock waves through the body of the audience. It reveals the pinocleptic gaps in human perception, fluctuating between consciousness and escapism into the illusionary reality of a city on speed.
The human condition is dictated by speed. Speed is like our ecstasy in the technological revolution. If dark glasses were a symptom of a “fear of light” and a veiling from the intense illumination of “the acceleration of the cinematic effect” in urban perception in the western metropolis of the 1940s, as Paul Virilio (2009, pp. 60-61) interprets Aldous Huxley’s writings in “The Art of Seeing” (1943), today’s Google Glass might reveal a symptom of a need for enhanced (accelerating) perception across real and virtual layers in the contemporary media city. Coisa Lida reminds how our context, both physical and cultural, programs our perception – our retinal experience, or our mode of seeing things. We constitute the meaning of our surroundings by way of how our context pre-programs our way of seeing things. And it is by being aware of this programming that we are able to act differently on our surroundings.
Tanya Toft
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