Intervencões mínimas [vídeo ao vivo na rua]
documentação em vídeo de projeções experimentais e efêmeras realizadas no bairro Poço da Panela, em Recife, Brasil. As projeções buscavam aproximar imagens e situações da idéia de especificidade do trabalho em função de seu entorno, localidade ou espaço.
O experimento foi conduzido com o apoio do coletivo Branco do Olho e envolveu vídeos e colaborações de:
Barbara Collier
Bruno Monteiro
Clarissa Diniz
Jarbas Jacome
Juliana Notari
Lucas Bambozzi
Lucia Padilha
Raul Mourão
e colaboradores
documentação fotográfica: Rodrigo Braga
documentação em vídeo: Lucas Bambozzi
Relato de residência no Condomínio Branco do Olho (Recife, 2009)
A residência junto ao BO em Recife foi um presente. Não se trata de retórica vazia, pois ela me foi ofertada, como raramente me acontece, sem que me aplicasse em algum edital ou fizesse qualquer movimento burocrático para merecê-la. Isso já se inicia valioso. E o que ocorreu a partir de então foi uma oportunidade de experimentar possibilidades despretensiosas, de testar execuções singelas e de renovar idéias. Simples e tranquilo, assim mesmo. Mas isso raramente é permitido pela lógica da produção cultural aplicada pelo ‘mercado’, onde somos uma espécie de engrenagem a favor de uma produtividade que visa a eficiência, o cumprimento de prazos, a prestação do serviço, a entrega de produtos. Assim nos sentimos muitas vezes em que nos convidam para algum projeto, pois a moeda imediata é fornecermos algo imediatamente em troca, num processo onde, claro, nos acabamos cúmplices dos deadlines, dos trâmites e das prestações de contas, todos produtores que também somos, em nossa necessidade de versatilidade, ou seja, de não travarmos os mecanismos que em algum momento nos garantem algum sustento, seja efetivo, seja pelo vagar da reputação em eterna construção.
Com o BO foi diferente, foi permitido o devaneio, a idéia ainda desamarrada, a experimentação de algo que não conhecia ou não sabia de antemão os resultados. A noção comparativa a um trabalho ‘laboratorial’ cai bem aqui, não em termos de recursos e tecnologias, mas em se tratando de um convite à observação de um contexto, de um campo social, pela disponibilidade de interlocutores, pela boa vontade entre artistas, produtores e agentes culturais, todos de fato artistas-malabaristas em busca de um mesmo valor de oportunidades nem sempre materiais.
Assim, a partir de algumas incursões pelo Capibaribe, em visitas descompromissadas e afetadas pela morosidade de suas margens menos urbanas, em dias de carnaval, fui captando imagens que serviriam a uma forma de aproximação livre e subjetiva dos fluxos do rio. A companhia gentil e estimulante de Lucinha Padilha, as conversas no atelier de Rodrigo Braga e Bruno Vilela, Jarbinhas e Clarissa Diniz sempre por perto, noites no Poço da Panela, cruzando lados, o Capibar vazio, as baronesas em blocos lentos, os bacanudos BO’s por toda parte, Barbara atenta e alegre, Bruno Monteiro sempre disposto, um show ali de Dolores com Duda, Central e Tambores Silenciosos, e ainda rio, talvez enxadas boiando, vendo mais baronesas (quanta ladeira), aliciando barcos, fazendo pontes, registrando travessias, de todo tipo, vendo o rio de muitos jeitos. O rio que em meandro vende a vista, gentrificado, moroso, que afoga severinos, que comove um silveira qualquer como eu.
O resultado foram vários, que se reverberam em trabalhos ainda hoje latentes, impressões de/em deslocamento que delinearam também formas de apresentação, em testes, em processos, aplicados no BO e para além.
Já tinha antecedentes nessa perseguição a rios. Desde 1998, em imersões pelo Oiapoque, em estado hipnótico pelo rio que separa mundos no documentário Do Outro Lado do Rio (88min. 2004): acompanhar a vida alheia, a complexidade de situações, a fronteira e toda a economia informal e clandestina que intersecciona duas margens opostas.
A residência me levou ainda a muitas imagens que percorrem Outros Silverinos Remix, uma performance audiovisual criada com Fernão Ciampa para o CCBB-SP (40min. 2009), a partir de Morte e Vida Severina. Claro, o foco é o Capibaribe, que simboliza fluxos migratórios correntes no Brasil e no mundo, adaptado ao ir-e-vir em tempos de mobilidade e deslocamento, a diversidade que molda a cultura audiovisual num eixo imaginário entre Pernambuco e São Paulo.
Recentemente houve ainda, talvez como afluente da memória, a instalação Meandros, que teve como ponto de partida o Rio Piracicaba (águas caudalosas além Tietê, a 150 km de São Paulo). Foram dias passados em barcos lentos, onde e quando vem também o esquecimento.
Talvez tivesse guardado ainda muita coisa dos ‘corgos’ de infância, em São Sebastião do Paraíso, Pratápolis, Cássia, Fortaleza ou Monte Santo, tudo em Minas. Entre uma memória avivada e outra, tem um rio no meio. Ainda bem.
Assim, tem sido possível observar o tumulto que me ocorre diante das sinuosidades marginais desses rios, mesmo que um outro qualquer, em suas sugestões de muitas temporalidades, em suas peculiaridades que fazem a vida ser vivida de forma diferente.
Trabalhos realizados durante a residência:
Panorâmicas Contidas [vídeo, 15 seg. cada]
série de 5 vídeos a partir de fotos panorâmicas obtidas com celular . realizadas no atelier Branco do Olho.
Panorâmicas Contidas [foto]
série de fotos panorâmicas de ambientes privados, obtidas com celular através de software básico para imagens panorâmicas . realizadas no atelier Branco do Olho.
Outros Silverinos (6min. 2009)
técnica: projeção de vídeo monocanal . gravado nas pontes do Capibaribe.
O rio corre é para o mar (16min. 2009)
técnica: projeção de vídeo monocanal . gravado em vários pontos do Capibaribe
Intervencões mínimas [foto]
documentação fotográfica de projeções realizadas no bairro Poço da Panela, Recife por ocasião da residencia Lucas Bambozzi no Condomínio Branco do Olho
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